“Os piores monstros são os que nós criamos.”
[Contém Spoilers]
The Witcher é mais uma das séries que se apresenta como candidata a ‘Novo Game of Thrones’, mas não é esta a forma como eu considero melhor apresentá-la (nem de apresentar nenhuma outra série não relacionada com Game of Thrones, como deves saber se já leste minha postagem sobre Carnival Row). Então, começarei de novo.
The Witcher é a mais nova série de Fantasia da Netflix produzida por Lauren Schmidt, que participou de outros projetos deste canal de Streaming como The Umbrella Academy, The Defenders e Daredevil. A série é uma adaptação dos livros de Andrzej Sapkowski e, apesar de não se divulgar como tal, carrega um toque aqui inspirados na outra adaptação dos livros – a bem conhecida saga de vídeo game desenvolvida pela CD Projekt Red. A produção da série não tem os direitos de uso da imagem e conteúdo do jogo, mas quem, como eu, jogou The Witcher, pôde notar onde as semelhanças estão.
A série exibe o desenvolvimento de três personagens: Cirilla, a princesa fugitiva de Cintra; a feiticeira Yennefer de Vengerberg; e Geralt de Rivia, um Witcher, caçador de monstros. Os três viajam através do Continente, um território dividido em vários reinos e habitado por diversos povos, humanos e não humanos, além de um apanhado criativo de monstros de todo tipo.
A primeira temporada se concentra em eventos esporádicos de formação das personagens em circunstâncias prévias ao seu encontro, e adapta o conteúdo dos contos retirados dos livros The Last Wish (1993, lançado em inglês em 2007) e Sword of Destiny (1992, 2015 em inglês), ambos prévios à saga principal do The Witcher, que inicia a partir do Blood of Elves (1994, 2008 em inglês).
Não pude ainda ler os livros de Sapkowski; não passei de três capítulos do The Last Wish até o momento. Portanto, não poderei levar em conta um conhecimento prévio da história original para a apreciação da série. Quando tiver cumprido essa leitura, devo deixar minhas impressões da saga à parte e – se for o caso – retomar alguma avaliação da adaptação noutro momento. Vejo com cautela o conhecimento que tenho a respeito da história derivado dos jogos, pois não tenho ainda como avaliar o quão similares (ou diferentes) eles são da narrativa original.
Parece ser este o momento apropriado de dizer que assistir ao The Witcher foi para mim uma forte decepção. Esta é provavelmente uma opinião impopular, dada a recepção positiva que a série teve entre críticos e audiência. Mas descrevo a experiência de assisti-la como a de olhar na vitrine aquele bolo de chocolate de três camadas, com calda e cerejas, muito promissor e que, no entanto, na primeira garfada enche a boca de desgosto, com massa aguada, calda enjoativa e pegajosa, e cerejas amargas. Urgh.
Será inevitável que este descontentamento faça parte da minha resenha e análise da série, mas me esforço aqui para explicar de onde ele vem para que possas avaliar o que escrevo. Adianto que o meu desapontamento deriva especialmente do potencial que vi desperdiçado na produção. Se tu tiveres uma perspectiva diferente da minha, peço um pouco de paciência para acompanhar meu raciocínio aqui, e não deixe de comentar em quais pontos discordas de mim, está bem?
Certo, então, vamos prosseguir.
Três Histórias Entrelaçadas
A primeira temporada do The Witcher segue três linhas narrativas, uma para cada um dos seus personagens principais. Para os que queiram compreender em maior detalhe cada linha temporal e os principais eventos do Continente, a Netflix disponibilizou um mapa interativo muito legal.
Geralt de Rivia
No centro da primeira linha narrativa que conhecemos está Geralt de Rivia. Um witcher, caçador de monstros, que viaja de cidade em cidade oferecendo seus serviços em troca de pagamento. Geralt vive sob um código: não interferir em nada dos problemas entre os homens, usar sua força e habilidades apenas para seus serviços, quando duas escolhas se apresentarem como más, a solução é não escolher. Enfim, não se envolver. E nos é dado a entender que Geralt vive sob esta regra até o dia em que conhece Renfri de Creyden.
Renfri é uma ex-princesa que nasceu durante um ecpipse solar, e teve sua posição e sua vida palaciana desfeita quando o mago chamado Stregobor enviou seu capanga para destruí-la. Renfri sobrevive e mata o capanga com o broche da mãe, mas é estuprada e perde sua posição na corte. Stregobor acredita na Maldição do Sol Negro e conduz experimentos com mulheres nascidas em famílias reais durante um eclipse solar, pois acredita que elas carregam uma maldição que as torna menos humanas, com mutações e poderes ocultos que levarão ao fim da humanidade. Renfri quer vingar-se de Stregobor e matá-lo. Stregobor quer se livrar da perseguição e tomar o corpo de Renfri para experimentações. Geralt é posto diante do dilema de escolher auxiliar um ou outro. E entre um e outro, ele escolhe não se envolver.
Mas ele se envolve. Renfri se aproxima de Geralt e, aparentemente, Geralt se identifica com o sofrimento da jovem. Mas pede que ela abandone aquele caminho e escolha a vida, em vez da morte. Renfri, contudo, finge concordar com Geralt apenas para distraí-lo e enganá-lo. Quando Geralt acorda depois de uma noite juntos, percebe que Renfri o ludibriou e partiu para executar sua vingança. O witcher tenta impedir a ex-princesa, mas é incapaz de convencê-la a desistir do combate. Ele acaba por matá-la, junto com uma dúzia de seus capangas. Quando Stregobor aparece para se apropriar do corpo de Renfri, Geralt tenta impedi-lo, mas o mago volta a população da cidade de Blaviken contra o witcher, culpando-o pelos assassinatos. Assim nasce a lenda de Geralt de Riva, o assassino de Blaviken.
Cirilla de Cintra
A segunda história concerne Cirilla, ou Ciri, neta da rainha Calanthe, a Leoa de Cintra, e filha da princesa Pavetta com o cavalerio Duny, Urcheon de Erenwald. A história da princesa começa com a invasão do reino inimigo de Nilfgaard sobre Cintra, e a sua fuga da cidade em chamas, auxiliada pelos aliados da rainha.
Ciri acaba sozinha e descobre que homens de Nilfgaard a perseguem. Durante sua evasão pela floresta, Ciri encontra e perde aliados e companheiros – como o jovem elfo Dara, e Eithne, a rainha das Dryads da Floresta de Brokilon – até ser acolhida por uma senhora que mora no meio da floresta, próximo à fronteira de Sodden onde Nilfgaard continua a avançar para tomar o Norte.
Yennefer de Vengerberg
Na terceira linha narrativa temos Yennefer. Nascida do caso entre uma humana e um elfo, a jovem Yennefer carrega no corpo retorcido a marca da sua linhagem híbrida. Pela sua aparência, ela vive abusada em sua cidade e recusada em sua família. Até o dia em que acidentalmente abre um portal até as cavernas de Aretuza, onde encontra o mago Istredd, que anuncia a mudança do destino da jovem antes de abrir um novo portal retorná-la para casa. Chegando lá, Yennefer é surpreendida com a chegada de Tissaia de Vires, Reitora da escola que ensina jovens como Yennefer a se tornarem feiticeiras.
Sob o mentoramento de Tissaia, Yennefer cresce como feiticeira e adquire mais experiência com o mundo. Durante este período, ela descobre a capacidade extraordinária de suas habilidades, bem como as ambições que nutre no lugar da aceitação familiar que nunca teve. Até o momento que Yennefer se revolta com sua mentora e o conselho de magos por tentarem mandá-la para a corte de Nilfgaard, então um reino pequeno e sem muita importância política. Yennefer toma seu destino em mãos, passa pela transformação que lhe dá a imagem perfeita e juventude eterna em troca da capacidade de tornar-se mãe um dia, e toma o lugar da jovem Fringilla na corte de Aedir. Fringilla é enviada para Nilfgaard no lugar de Yennefer. E anos depois, torna-se a feiticeira principal que comanda, ao lado de Cahir, comandante do exército nilfgaardiano.
Depois de anos em Aedir, a vida na corte perde todo o glamour para Yennefer, que se vê como uma babá glorificada de reis e nobres mimados. Durante a escolta de uma rainha que foi incapaz de dar à luz a herdeiros homens, Yennefer tem a epifania de que seu vazio interior se dá por não ser a pessoa mais importante para alguém, e pela falta de perspectiva de deixar para trás um legado. Ela vê na devoção materna e na criação de um filho a única forma que ela poderia criar essa conexão mais profunda, mas agora é tarde demais. Yennefer trocou sua maternidade pelos poderes e posição que possui. E passará anos em busca de uma forma de reverter esta permuta.
Destino e Escolha
Os temas principais que parecem integrar os eventos da primeira temporada de The Witcher parecem girar em torno de destino e de escolha. Enfim, sobre a agência das pessoas – em especial aquelas no centro de grandes eventos – diante de um destino que em parte, lhe foi importo pelas decisões dos que lhe precederam e, em parte, foi moldado pelas suas próprias escolhas.
Foi colocado no centro do enredo o banquete de noivado que determinaria o futuro marido de Pavetta, a princesa de Cintra. Geralt é levado a participar deste banquete para ajudar o bardo Jaskier, seu companheiro de jornada, e acaba no meio de um impasse entre as vontades da rainha Calanthe e de filha, que quer se casar com Duny, um homem amaldiçoado com a aparência de um porco espinho. Este homem está lá para cumprir seu destino, estipulado no dia em que salvou a vida do antigo rei, pai de Pavetta, pela Lei da Surpresa.
A Lei da Surpresa é reclamada quando um homem salva a vida de outro e não pede um pagamento fixo em troca. Em vez disso, será devido ao salvador aquilo que o homem possui, mas ainda não sabe, em troca de sua vida poupada. Ao final do banquete, por ter salvado Duny da morte, Geralt reclama para si a Lei da Surpresa como pagamento, da mesma forma que Duny fez no passado. Geralt não acredita em destino, nem que desta relação sairá algo especial. Mas ainda naquela noite Pavetta descobre-se grávida da filha de Duny, e a escolha de Geralt o entrelaça irreversivelmente com a história da corte de Cintra.
Além da Lei da Surpresa, outros momentos narrativos retomam o tema do destino. Jaskier, o bardo, além do banquete de Cintra, está nos presente nas principais aventuras de Geralt que o reconectam com o Ciri, antes e depois de seu nascimento. Na primeira aventura do bardo e do witcher, Geralt convence Filavandrel, rei dos elfos, a deixar a região que habitava próximo de Cintra para se reagrupar e reaver sua terra noutro momento. Este evento levará às batalhas da rainha Calanthe contra os elfos e o assassinato da família de Dara, o jovem elfo que, sozinho no mundo, encontra Ciri e a auxilia em sua fuga. É relação com Jaksier que leva ao encontro de Geralt com Yennefer, e depois às aventuras da caçada do dragão. Todos estes eventos relevantes para recolocar Geralt no caminho do destino, no caminho de Ciri.
Do outro lado do destino está a escolha, ou a falta dela. Yennefer e Geralt não tiveram a opção de selecionar o tipo de vida que tiveram, e ambos se conectam por este ressentimento. Durante as invasões de Nilfgaard, ambos precisam descobrir o que realmente significa ter liberdade num mundo em que decisões alheias lhes forçaram a tomar as profissões de feiticeira e witcher. Mas acima de tudo, precisam perceber o papel que eles próprios escolheram nas suas histórias. Eles devem ser capazes de assumir as suas escolhas fundamentais, aquelas que realmente moldaram suas vidas. Geralt com a Lei da Surpresa, e Yennefer com sua escolha pelo domínio do poder ancestral, tomam as rédeas do seus destinos quando o witcher retorna para assumir seu papel ao lado de Ciri, e quando a feiticeira se envolve na batalha que sua mentora, Tissaia, lidera contra o exército de Nilfgaard pela liberdade dos reinos do Norte.
Apenas depois de assumirem seus legados, a história pode finalmente começar.
O problema com o enredo
É chegada a hora de eu explicar minha decepção com a série. Resumirei minhas impressões em três pontos.
Muitas pessoas identificaram problemas na série, e a maioria delas associou suas dificuldades com o modo como o enredo constrói as suas diversas linhas temporais. Classificando-as como desnecessariamente confusas, críticos e audiência parecem dar a entender que o problema está em se ter várias linhas temporais e no excesso de informações que a série tenta abarcar ao mesmo tempo. Eu concordo com estas pessoas, em parte. Mas considero que as linhas temporais confusas são um sintoma, não o problema. Não vejo as linhas temporais distintas como um defeito a priori, tampouco considero que um enredo complexo com eventos ligados entre si pelo tema principal seja ambição demais para uma série de Fantasia. Desde que o trabalho de organização do roteiro e de edição dos episódios seja um capaz de sustentar a narrativa.
Qual é, então, o problema com o enredo de The Witcher?
A meu ver, seu defeito nasceu na sua prancheta de concepção, que só piorou com as opções técnicas de edição de cenas e dos episódios. Toda a primeira temporada do The Witcher é construído sobre um punhado de contos: The Lesser Evil (E01), The Edge of the World (E02), The Witcher (E03), A Question of Price (E04), Sword of Destiny (E04), The Last Wish (E05), The Bounds of Reason (E06) e Something More (E07 e E08). Se a decisão foi começar a saga a partir destes contos, e não das histórias principais, a produção da série tinha duas opções: Lançar a primeira temporada como uma antologia de contos, totalmente separados entre si, que compõem juntos a ambientação da narrativa que virá depois. Como um prólogo disperso. Ou assumir o desafio de tornar este enredo composto por histórias curtas e entrelaçá-las numa única narrativa.
Um enlace perfeito era a única coisa que tornaria uma coleção de eventos em uma única história, e a produção da série falhou em fazer isso quando se recusou a escolher entre as duas opções. Histórias que deveriam ser essenciais para explicar a origem de personagens complexas como Geralt e Yennefer são lançadas com pouco tempo, recheadas de personagens secundárias que não se desenvolvem o suficiente, com as quais não somos capazes como audiência de nos conectarmos e nos importarmos – porque elas mesmas não passaram tempo o suficiente com as personagens principais para esses enlaces se solidificarem. As histórias são, acima de tudo, sobre conexões humanas. Sobre o que há de mais profundo na relação entre as pessoas. The Witcher supostamente retira deste fosso o seu mote narrativo, da proposta de que aqueles ligados pelo destino sempre se encontrarão. Mas o que sobra na série em seu discurso sobre destino, lhe falta meios para mostrá-lo.
Esta é minha primeira crítica. A produção da série não soube escolher bem como amarrar histórias isoladas e dar à grande saga The Witcher um prólogo apropriado.
Meu segundo ponto é a respeito do desenvolvimento das personagens principais. Qualquer boa história elabora suas personagens centrais a partir dos conflitos que levam ao seu desenvolvimento pessoal. A pulverização da narrativa de Geralt e Yennefer, e a falta de evolução pessoal de Ciri, frustram a capacidade da série de elaborar suas histórias de modo apropriado. Além disso, a produção da série falha em dar a devida profundidade no contato das personagens principais a partir das relações e conflitos com as personagens secundárias.
As relações entre Geralt e Renfri, e entre Yennefer e Istredd, são essenciais para explicar quem eles se tornarão. Mas nós não somos levados a sentir nenhum impacto pela presença de Renfri, alguém que surge e cria uma relação relâmpago com Geralt, apenas para morrer duas cenas mais tarde. Do outro lado, Istredd e Yennefer tiveram mais tempo, mas todo este espaço foi gasto em diálogos expositivos, fracos, que desperdiçaram o talento dos atores em cena. Não é dado tempo suficiente entre suas falas, peso suficiente por trás da relação de confiança entre os dois. Estas personagens precisavam aprender com aquela experiência, desenvolver suas falhas e virtudes ali. Mas sua falhas se mantém as mesmas e suas virtudes não se desenvolvem a partir um do outro. Falta algo no diálogo de Yennefer com Istredd, assim como falta algo com Tissaia, que construa aquelas relações de amante e mentora como parte do desenvolvimento da feiticeira. No final, a sensação que se tem é que não há uma história linear, apenas uma coleção de eventos.
Estes são exemplos com problemas da construção de cenas e diálogos, e as opções feitas para as atuações que falharam em nos dar conexões humanas marcantes e desenvolvimento suficiente das personagens diante das câmeras. É somente no sexto episódio, com a intervenção da primeira personagem secundária realmente profunda e interessante (depois do pobre, subutilizado e maltratado Jaskier), que as histórias de Geralt e Yennefer tomam a forma e profundidade que de fato mereciam. Graças à intervenção de Borch Three Jackdaws e a atuação brilhante de Ron Cook, finalmente os conflitos pessoais do witcher e da feiticeira tomam forma. O que, infelizmente, ocorre apenas na metade final da série.
O que leva ao centro do problema com as várias linhas do tempo em The Witcher.
Uma narrativa com linhas do tempo diversas precisa de um núcleo principal e uma linha central a que seguir. Esta linha narrativa será aquela que dá sentido a todas as outras, a partir da qual a história principal se desenlaça. Nela desaguam todas as outras linhas. E na primeira temporada de The Witcher, esta linha é o “presente”, é a história que começa com o cerco e a destruição de Cintra, e a fuga de Ciri.
Mas a história de Ciri toma em torno de duas semanas. Acredite, este é o tempo real que se passa entre a destruição de Cintra e o encontro de Ciri com Geralt na fronteira de Sodden. São apenas duas da fuga de Ciri, preparação para a batalha de Yennefer, e errância de Geralt procurando pela princesa. Contra décadas e décadas de desenvolvimento por trás das linhas narrativas de Geralt e Yennefer, que tomam a maior parte do tempo narrativo, saltando de evento para evento, para se conectar com Ciri apenas nos dois últimos episódios. Isto é responsável por gerar a sensação de desajuste temporal e temático que embaralha toda a série.
Havia outra opção, uma opção melhor que não comprometesse profundamente a adaptação dos contos para a narrativa visual? Sim, várias outras, na verdade.
O tempo central do presente deveria ser, de fato, o principal ao longo da série. E não apenas em 1/4 dela. Teríamos que acompanhar os eventos mais recentes de Geralt e Yennefer antes da queda de Cintra e da Batalha de Sodden desde o início. Precisávamos vê-los lutando por algo com que se importam, em contato com pessoas que os tocam profundamente. Isto nos daria uma conexão mais forte com cada um e com seus traumas, erros e histórias do passado. Este era o ticket que daria aos flashbacks da origem de suas jornadas um peso muito maior.
A jornada de Ciri, por sua vez, não possuía eventos o suficiente para vir à tona tantas vezes. A personagem sequer passa por um desenvolvimento suficiente para carregar sozinha o peso da linha principal que deveria guiar todas as outras.
Por fim, meu terceiro e último revés com a série, que trouxe à tona a grande decepção de que eu falei no início.
O mundo de The Witcher é vasto, criativo, cheio de camadas e nuances, como o próprio Geralt. Há cultura, história e filosofia naquelas narrativas. E toda essa profundidade se perde no modo como o enredo da série foi escrito. Toda a complexidade é tocada apenas em sua superfície. Complexidade se cria com desenvolvimento de personagem, de conflito e de diálogos interessantes. Em lugar disso, vi apenas nomes sendo jogados no ar, diálogos quase sempre artificiais, com atuações subaproveitadas, e crenças, religiões, filosofias e modos de vida esvaziados. A série se tornou, para mim, um estudo de caso sobre uma história má adaptada, que reúne às pressas o enredo, grudado com cola de isopor, cenários de papel e personagens de papelão.
Minha conclusão? A série conta com a grande popularidade dos jogos para sustentar seu sucesso, e depende muito que a sua audiência seja familiarizada com aquele mundo e aquelas personagens, que já se importe profundamente com elas, para que alguma experiência positiva saia dali. Digo isso como uma das pessoas que gosta muito da história por trás de The Witcher, e que queria que maior zelo e experiência tivessem sido dispensados na primeira temporada do que – talvez – se torne uma história que vale à pena acompanhar nesta mídia.
TL:DR ~ Muito Longo – Li foi nada!
Recomendo assistir os episódios fora de ordem, comece do quinto ao oitavo, depois do primeiro ao quarto.
A história só começa realmente nos dois últimos episódios, e só faz sentido na metade final. Não à toa, a insígnia da série só surge no oitavo episódio.
É só isso mesmo. Jogue o jogo, leia o livro. São portas melhores por onde conhecer a história.
Tem uma coisa 100% perfeita na série: a trilha sonora!
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